domingo, 23 de maio de 2010

Olhar de Avós




Ahhhhhh Rubem Alves, que delicia suas palavras, como refrescam a alma.

No momento estou lendo "Concerto para o corpo e Alma" desse lindo ser humano, e me deparei com esse trecho do livro que achei maravilhoso, a mais pura verdade. Vejam:

"Se eu tivesse intimidades com o Criador eu lhe diria que há uma coisa a se fazer para aliviar o sofrimento das crianças: é só trocar os olhos dos pais. Pôr, no lugar dos seus olhos, os olhos dos avós. Os olhos dos avós vêem os netos de um jeito diferente do jeito como os olhos dos pais vêem os filhos.
Sei disso por experiência própria. Quando eu era pai jovem eu via apressado. Meus olhos corriam, agitados, pelas dez mil coisas que nos rodeiam. Eles não haviam aprendido ainda a distinguir o essencial. Para se ver o que há de essencial numa criança é preciso um olhar vagabundo, olhar que passeia, sem pressa, sobre o filho que brinca. Um filho brincando é felicidade que passa muito rápido. Os olhos dos pais sãos olhos administrativos: tentam administrar a infância, achando que assim o futuro vai ficar garantido. (Tolos, nem sabem se haverá futuro...) Os olhos dos avós são olhos sábios, no sentido preciso da etmologia da palavra: sapio, em latim, quer dizer, "eu degusto". As crianças são objetos de degustação.

Uma pena que "só aprendemos a ser filhos quando somos pais e só aprendemos a ser pais quando somos avós".